Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância
Interdisciplina: Educação de Portadores de Necessidades Especiais
Professora: Mauren Lúcia Tezzari
Aluna: Jaqueline Abrantes Ferreira
VI Semestre - Pólo Alvorada
A atividade consiste na realização de uma pesquisa (do tipo estudo de caso), com um sujeito com necessidades educacionais especiais de sua escolha. Note que o sujeito por você escolhido não precisa estar relacionado com a temática desta unidade ou com as próximas. Procure algum caso na sua instituição, ou numa instituiçaõ vizinha ou ainda um aluno multirepetente ou com dificuldades de aprendizagem. A pesquisa será realizada através de registro escrito em forma de relato.
Obs: o nome das pessoas envolvidas serão mudados para preservar a identidade das mesmas.
Dados de identificação do aluno
Nome : Bruno Idade: 10 anos Sexo : Masculino Data de Nascimento: 27/02/99 Série: 2º ano (1ª série)
Janice e Bernardo são pais de Bruno e de mais quatro filhos,ele é o terceiro.
Moram no mesmo pátio com a avó mas em casas separadas muito humildes ,de condições precárias,demonstrando um nível sócio econômico baixo. A renda da família atualmente vem do trabalho do pai que atua na construção civil , do bolsa família e a pensão da avó que ajuda nas despezas.
A avó de 68 anos cria um casal de crianças (3 e 4 anos) que foram abandonadas pela mãe(dependente química),filhos de um sobrinho que não sabe por onde anda.
O casal se conheceu ainda jovens adolescentes, ela com 16 anos e ele com 18anos onde ocorreu sua primeira gestação,relata que todos foram de parto normal , que não houve nenhum problema durante o desenvolvimento gestacional o que lhe permitia trabalhar fora,hoje fica em casa realizando atividades domésticas.
História de vida do aluno
Bruno iniciou sua vida escolar com cinco anos na pré -escola ,no ano de 2004, e estuda na mesma escola até hoje. Nesta época sua mãe trabalhava fora quem cuidava as crianças era a avó que também o levava para as aulas. Como na maioria das vezes ele chorava ,voltava para casa e tinha muitas faltas,até o ano passado (2008) este choro ou problemas de saúde como vômitos,dor de cabeça e de estômago aconteciam quase sempre na hora de ir para o colégio.
Para que o Bruno fosse mais assíduo a mãe direcionou a tarefa de levá-lo à escola para sua irmã mas o choro por qualquer motivo que fosse sempre acontecia. A família relata que ele é muito brabo e fechado, quando está assim fica muito sério ,cruza os braços e não faz nada que lhe peçam.
Aparentemente Bruno tem dificuldade de aprendizagem,não tem diagnóstico de nenhum especialista e não toma medicamentos. A mãe relata que a irmã tem dislexia (não comprovada clinicamente) e que o menino tembém tem pois "puxou" a irmã.
De acordo com a mãe ele "aprende e esquece",troca o "T" por "D", "P" por "B" e não presta a tenção.
O menino durante a entrevista demonstrou ser calmo,quieto,tímido e observador.Em alguns momentos quando direcionava a conversa para ele,procurando estabelecer um diálogo,respondia timidamente e sempre com um sorriso afetivo. Relaciona-se muito bem com sua família,a direção, funcionários e colegas da escola.
Participa de um grupo de danças folclóricas em um CTG (Centro de Tradições Gaúchas) perto de sua casa e não há registro de nenhum ato em desabono à sua conduta durante a sua permanência na sede, nos eventos e ensaios.
Relatou que não gostava da antiga professora pois ela o xingava, gritava muito e não gostava dele, não deixava ele ficar na pracinha da escola e quando os colegas aprontavam só ele levava bronca , por isso não realizava as tarefas. Ficou com a mesma professora por dois anos consecutivos sendo que no início do segundo ano a mãe foi até a escola em uma reunião e a professora disse que naquele ano já tinha oito alunos que seriam reprovados se não mudassem suas atitudes referentes ao ano anterior,onde neste grupo estava incluído Bruno.
Ele é multirepetente,a família não aceita as críticas dos parentes que tecem algum parecer ou aconselhamento sobre a situação incentivando o comparecimento e maior atuação dos pais em face ao problema. A mãe não gosta dos conselhos e nem de acompanhar o rendimento escolar,diz que falta tempo devido aos afazeres domésticos pois a família é grande,quando a escola pede que ajudem ele nas tarefas quem o faz é a irmã de 14 anos(que segundo a mãe tem dislexia).
Devido aos problemas existentes ,em setembro de 2008,a escola o encaminhou para o CIR com os seguintes motivos:
- Não presta atenção aos detalhes ou faz erros por falta de cuidado;
- Tem dificuldade em manter aten~ção em tarefas ou brincadeiras;
- Parece não escutar quando lhe falam diretamente;
- Tem dificuldades de organizar tarefas e atividades bem como seu caderno;
- Evita,não gosta ou reluta em realizar atividades que exigem manter esforço mental;
- Dificuldade na leitura e interpretação;
- Dificuldade na escrita;
- Dificuldade de raciocínio lógico;
- Multirepetência : pré escola (2004) , 1ª série ( 2005 /2006 / 2007 / 2008).
Atendimento Complementar Especializado
No relato da mãe o menino freqüentou o CIR durante três meses duas vezes na semana.
Ela o tirou do atendimento porque:
- a condução que o levava demorava para chegar ou tinha que se identificar novamente cada vez que seu nome não aparecia na lista de passageiros;
- sua roupa que é comprada com dificuldade aparecia suja de tinta devido aos trabalhos realizados no CIR e por esse motivo ele não gostava de fazer tais atividades;
- no atendimento o menino só brincava e pintava não trazia nenhum caderno ou atividade escrita para fazer em casa ;
- falava muito da comida maravilhosa que era servida para eles antes da volta para casa.
A mãe questiona muito a didática dos professores,comparando com o "no meu tempo",demonstra agitação e faz sugestões de como deveria ser uma aula de verdade onde os professores enchem os cadernos de temas, aplicam as provas e vão passando de classe em classe avisando aos alunos que em determinada questão tem algo errado,que tem que pensar mais e apagar.
Fui até o CIR para obter informações sobre o aluno , as atividades desenvolvidas e se neste período em que o mesmo freqüentou o atendimento teria sido feito um diagnóstico mais preciso sobre seu problema. Tive uma grande surpresa nas informações,me informaram que ele freqüentou não mais que dois ou três atendimentos e desapareceu. Segue o conteúdo do ofício enviado para a escola do menino:
"Informamos que estamos desligando o aluno Bruno,pois o mesmo tornou-se infreqüente ao CIR. Não consideramos apto para tal desligamento e aguardamos providência da escola e /ou órgãos competentes".(dezembro de 2008)
Na escola ,juntamente com a ficha do aluno nada consta que o mesmo foi encaminhado para o CIR e muito menos que ele deixou de comparecer aos atendimentos.
Por questões de ética e para preservar a identidade dos envolvidos não poderei colocar aqui uma cópia dos documentos que tenho em mãos ,devidamente timbrados e carimbados com a identificação das entidades envolvidas e que comprovam esse movimento em prol do atendimento especializado,mas posso garantir que de fato são procedentes de ambas as partes institucionais.
Relato da Professora
A atual professora relata que não tem problema nenhum com o aluno e que neste momento ele não apresenta dificuldades anormais tendo sua avaliação do primeiro trimestre atingido plenamente os objetivos propostos. Nesta escola a avaliação é feita por parecer descritivo.
É um aluno organizado,realiza as atividades propostas,seu caderno é caprichado e não entende os motivos pelos quais ele foi reprovado de acordo com os resultados deste primeiro trimestre.
Ele falou para a professora que este ano está gostando de ir na escola. A mãe só compareceu no dia da entrega do parecer(em junho), informou que ele tinha dislexia como a irmã e que ele não queria freqüenter a escola no ano anterior(sentiu um certo conformismo no tom da mãe),mas que ela está inscrita em uma lista de espera enorme para atendimento psicológico gratuíto e assim tirar as dúvidas com o especialista sobre as causas que o levaram a repetência (não informou para a atual professora que ele esteve no CIR).
Na entrevista a mãe conta que estava muito sem paciência na reunião, tinha muita coisa para fazer em casa , a professora estava enrolando muito para entregar o parecer e que ela não gostava de ir na escola ou acompanhar e ajudar na solução e reforço das atividades,passando esse compromisso para a irmã ou outro membro da família como a avó e o pai.
Fomos buscar os registros do ano anterior e só encontramos os trabalhos e avaliações de final de ano que são obrigados a serem arquivados nas escolas , ela aplicou novamente os testes que o reprovaram e que constavam totalmente em branco. Ele refez e acertou a maioria das questões dentro é claro do parâmetro para esta época do ano,chegando a uma suposta conclusão de que na verdade ele sabia mas não fazia.
Atualmente não há uma proposta de trabalho diferenciada para ele (grupo de apoio em horário inverso, jogos didáticos, atividades de reforço,etc) além de carinho,atenção e atendimento individual para a realização das mesmas atividades que são propostas aos outros. Não pude ter a opinião das professoras anteriores pois as mesmas não estão mais na escola,quanto aos registros de trabalhos e avaliações diferenciadas assim como sua passagem por um atendimento especializado nada consta em sua ficha escolar.
Fotos do caderno atual do aluno
Minhas Conclusões
De fato temos aqui um problema e não podemos negá-lo,comprovadamente diagnosticado pela multirepetência do aluno .
Há também muitos fatores a serem avaliados dentro dessa complexidade:o fator familiar que traz o conformismo e descaso,a educação ou educador , o atendimento e a organização como um todo.
Desde o início do trabalho senti falta de registros oficiais da vida discente na escola e também no município. Não temos dados para comparação e acompanhamento dos alunos nas escolas nem na Secretaria de Educação,consegui apenas no CIR mas trata-se de uma minoria de alunos que ali são atendidos e não da realidade municipal.
Até agora estou pensando onde estariam os registros dessa caminhada escolar,que importância dá a família para a evolução educacional dessa criança e que profissionais somos e temos nas instituições que rotulam e fecham os olhos aos problemas existentes por falta de tempo ou interesse.
Não há neste estudo de caso um problema de acessibilidade motora mas uma falta de acesso social e emocional que não permitiu sua inclusão e adaptação na escola,causada pela falta de envolvimento e interesse da família e do professor.
Analisando tudo que escrevi até o momento atrevo-me a dar um diagnóstico , não de dislexia como tenta aparentar a mãe ,mas uma questão de não aprendizagem devido ao emocional / social causando um bloqueio que pelo visto foi neste momento interpretado pela atual professora e tratado com pequenas doses de atenção ,paciência e amor.
O resultado desse tratamento nos mostra uma criança que evolui a cada dia causando espanto na atual docente que nem se quer sabe ou teve ao seu alcance um registro de diagnóstico clínico ou não para seguir.
Segundo Kant e Adorno o homem é a única criatura que precisa ser educada e a educação se faz na primeira infância com cuidados e instruções dos pais e da escola ,essas primeiras experiências irão refletir psicologicamente em suas atitudes na vida adulta.
Se faz necessário uma sintonia entre os elementos básicos da educação,buscar parceria com os pais tornando o trabalho especializado conhecido em suas diretrizes .
O planejamento e as avaliações bem como a rede de apoio devem trazer vivências em que os alunos em desvantagem educacional possam ensinar e auxiliar algo para os demais.
Acredito que por falha da família e da escola não foi possível incluir este aluno porque não se conhecia suas experiências e percepções quanto as mesmas,todos precisam estar envolvidos na transformação de uma proposta de inclusão,um precisa entender o outro criando um espaço de convivência agradável e desejável.
Os registros são muito importantes ,já deveríamos ter entendido que a aprendizagem não é estanque e sim continuada cognitiva e afetivamente.
Seguimos aguardando o resultado das avaliações clínicas,se a família realmente buscar ajuda e não privá-lo disso, como fez no atendimento especializado (CIR).
Comments (4)
Simone Ramminger said
at 9:02 pm on Jun 25, 2009
Jaqueline vejo que conseguiste escolher e registrar alguns dados sobre o sujeito do teu estudo de caso. Procuraste preservar a identidade do menino, isso é importante.
Fizeste a postagem da atividade solicitada na unidade 4, informando o nome do aluno (fictício), idade, situação familiar, profissão dos pais e condições socioeconomicas da família. Relataste também as informações solicitadas na unidade 5 sobre avaliação inicial, diagnósticos (médicos, outros), encaminhamentos, atendimentos complementares especializados, processos investigativos, e algumas informações solicitadas na unidade 6. Escreveste que segundo a mãe, a irmã tem dislexia. Sabes quem fez esse diagnóstico? Sabes como é a relação do menino com o pai, os irmãos e a avó?
Sabes se a professora realizava na sala de aula um trabalho diferenciado com o menino, após tantas repetências? Como era a avaliação?
Relatas alguns problemas familiares. No texto "Deficiência Mental e Família: Implicações para o Desenvolvimento da Criança", Silva e Dessen falam sobre a importância do ambiente e da cultura para o desenvolvimento da criança: " A gama de interações e relações desenvolvidas entre os membros familiares mostra que o desenvolvimento do indivíduo não pode ser isolado do desenvolvimento da família (Dessen & Lewis, 1998)". Conseguiste ler? Vale a pena.
Lembramos que a atividade da última unidade, a 7, já está disponível no Rooda, em aulas e deve ser postada até dia 03/07.
Qualquer dúvida, faça contato.
Um abraço, Simone - Tutora sede EPNE
maurentezzari@... said
at 10:46 pm on Jul 2, 2009
Olá Jaqueline, o caso do aluno em questão é relamente interessante! Ser professor é realmente um desafio permanente e nos deparamos com situações surpreendentes com muita frequência (tamto positivas quanto negativas). Teu dossiê está bem elaborado e é possível perceber teu empenho na construção do mesmo. Um abraço, Mauren
Simone Ramminger said
at 11:48 pm on Jul 3, 2009
Jaque vejo que acrescentaste mais informações sobre o Bruno no teu dossiê. Que aproximações existem entre as idéias trazidas nos textos da unidade 7 sobre avaliação e teu estudo de caso?
No texto "A rede de interações" Pistóia comenta que "o ser humano é o resultado de suas interações e a vida é a busca incessante por novos conhecimentos. Estes novos conhecimentos, de forma nenhuma, representam um investimento em vão. Eles são a efetivação do que se pretende, em termos de proposta educativa para os alunos em situação de desvantagem. São estes que constituem-se no maior desafio a ser enfrentado, pois representam a mudança radical no atual panorama educacional. Um dado extremamente relevante é que a transformação proposta pela educação inclusiva está a desacomodar todos os sujeitos envolvidos nas relações escolares, pois não são apenas os alunos em situação de desvantagem que precisam “estar inseridos”, são todos os sujeitos da prática educativa. Todos aqueles que estarão envolvidos nas transformações propostas, no âmbito educativo, buscando incessantemente o conhecimento."
Um abraço, Simone - tutora sede
Simone Ramminger said
at 1:32 am on Jul 6, 2009
Jaque no texto AVALIAÇÃO E INCLUSÃO ESCOLAR: DESAFIOS, CONFLITOS E POSSIBILIDADES, Christofari traz uma questão importante sobre avaliação: "Dentre tantas questões que entram em pauta quando nos referimos à educação que prima pela inclusão escolar, podemos destacar uma que nos oferece um grande desafio: como avaliar a aprendizagem dos alunos sem que essa prática se torne instrumento de exclusão e de fracasso escolar?" Que outros pontos te chamam a atenção nesse texto e que podes relacionar com a tua prática?
De que forma tu acredita que esta interdisciplina contribuiu para a tua prática em sala de aula?
Podes desenvolver um pouco mais as conclusões do teu estudo de caso e fazer algumas relações com os materiais lidos e vistos ao longo do semestre. Ok?
Um abraço, Simone - tutora sede EPNE
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